23 de mar. de 2009

Duas drágeas de passiflorine

Eu sei. Às vezes é muito difícil ter paciência, tolerância com determinadas atitudes e posições. O que dá vontade de fazer é simplesmente gritar um palavrão, bater a porta, virar a cara ou mostrar o dedo médio daquele jeito que a gente aprende na adolescência (e muitas vezes esquece de esquecer este pequeno mau hábito).

Eu sei. Eu faço isto algumas vezes. Especialmente na tpm... Mas tentemos entender as pessoas. Seus motivos. É muito difícil entender algumas pois suas histórias, experiências, saberes não são os nossos. Compreender o que não passamos é complicado...

Mas pensemos - isto serve pra mim também, claro! - nos sentimentos das pessoas. O grande segredo é nos colocarmos no lugar delas. Se todo ser humano se colocasse no lugar do outro, muita coisa ruim deixaria de acontecer. E muita coisa boa aconteceria.

Estaríamos freando nossos mais primitivos instintos? Sim. Mas que mal há nisto se o objetivo for a paz interior, em casa, mundial (isto é bem "miss"... rs) ? Utópico? Claro! Mas não custa deixar cada mundinho nosso em paz. Possível? Faça sua parte e já estará fazendo o suficiente.

Distribua gentileza, amor - nem que para isto precise tomar duas drágeas de passiflorine...


"As pessoas ao redor do mundo podem parecer diferentes ou ter religião, educação e posição diferentes, mas elas são todas iguais. São pessoas para serem amadas. Elas estão todas famintas de amor. " Madre Teresa de Calcutá

Não tenha pena de mim

Escrevera e postara este texto há um tempo. Um amigo veio falar comigo, me dar um conselho... Disse que gostava de ler minhas coisas, mas achou que um determinado texto falava do outro com insdiscrição. Não achava bacana eu citar defeitos de meu ex... Era este texto! Ledo engano do meu amigo: este texto não é autobiográfico... Eu osbservo as pessoas e gosto de imaginar como são suas vidas entre os próximos, seus pensamentos, angústias, felicidades. Faço do retalho de percepções um mundo imaginário sobre determinado ser. Apesar de estar na primeira pessoa, este texto não é sobre mim. Meu eu-lírico é alguém que vejo, percebo e gosto. Segue abaixo o que acho que ela sente. E, amigo, eu só tenho 30 anos! kkk

Não tenha pena de mim.


Hoje estou sozinha. Minha cama é enorme depois da partida dele. E minhas lágrimas teimam em cair a qualquer sinal de lembrança...

Mas não tenha pena de mim.

Meu corpo já não é mais o mesmo depois de tantos anos... Minha pele tem manchas, rugas, marcas que as pessoas valorizam e poetizam para minimizar a dor da velhice àqueles que não se renderam aos métodos de rejuvenescimento butolínico. Eu não me rendi.

Você sorri e pensa: quero ver até quando!

Minha carne é flácida. Meus seios já não são os mesmos. E não há musculação nem hidroginástica que me deixem como antes. A velhice chegou. É fato.

Não fosse ele ter ido embora, eu sorriria feliz. Velha, frágil, mais lenta, menos necessária aos meus filhos; contudo feliz. Hoje, como ele se foi, estou triste. A casa ficou vazia.

Solidão é foda.


Ontem foi meu aniversário mas não quis comemorar. Meu filho me ligou no final da manhã. A caçula, de outro Estado, mandou-me flores e telefonou pra mim no final da tarde para dizer coisas bonitas que a gente sempre fala aos aniversariantes. A mais velha, apesar de muito ocupada, ligou logo cedo, passou pra me pegar pra almoçarmos depois de pegar meus netos na escola. Eles me deram uma redação (a mais velha, de doze anos) e um desenho (o mais novo, de seis) e muitos beijos e abraços.

É claro que eu chorei. De felicidade.

A redação era sobre como podemos ser felizes nos momentos mais simples. Sobre a arte de apreciar a verdadeira felicidade. Sempre fui feliz com as coisas simples. Tudo sempre me causou espanto, curiosidade, admiração. Nunca perdi esta essência de criança. Gostei da redação e guardarei no meu baú de lembranças - pra, talvez, nunca mais ler...

No desenho do mais novo, éramos nós seis de mãos dadas: eu ao meio, um neto de cada lado, minha filha mais velha com meu genro ao lado da neta , e o avô, meu ex-marido, ao lado do neto. No seu desenho, ele era o elo. Senti uma punhalada na barriga. E não pude conter as lágrimas.

O almoço transcorreu muito bem. Fiquei feliz naquele momento singelo e sereno ao reparar no ciclo da vida. Minha filha estava ali, comendo conosco sem perder um detalhe na educação das crianças. Lembrei de mim há trinta anos: atenta aos três. E hoje, no meu papel de avó, piscava pra eles e dizia que ela estava ficando velha e rabujenta...

Ser avó é espetacular: você ama aquela pessoinha e não precisa educar. Claro que não sou um poço de trangressão e maus exemplos, mas contribuo muito para a libertação dos meus netos... Modéstia à parte, todo mundo tinha que ter uma avó legal como eu.

Depois do almoço feliz, voltei à minha realidade opaca. Naquele apartamento que outrora era cheio de risos, gritos, gargalhadas, hoje só há eco. O eco dos meus passos, da minha tosse seca que não cessa. Eco dos meus bocejos, choro e solidão. Das conversas ao telefone e do folhear das páginas do jornal que leio diariamente. Da tv que continua ligada depois que eu adormeço naquela cama enorme...

Ao me olhar no espelho depois do banho e de passar meu arsenal de cremes faciais e corporais, enxergo uma mulher de sessenta e cinco anos realizada, feliz, mas sozinha. Esta solidão talvez seja pelo costume da companhia de mais de trinta e cinco anos de casamento. Porque amor, amor mesmo, deve ter acabado há tempos. Em algum momento, deixamos de nos beijar, de nos abraçar, de nos importar. Não deveria ter sido assim. Acomodei-me. Ele não. E se foi para os braços de outra da idade do meu segundo filho.

Nem tenha pena de mim, por favor. Ele peidava.

Todo mundo peida, eu sei. Mas isto é o tipo de coisa que se faz dentro do banheiro e não na frente da esposa, na cama, ao se deitar. Meu Deus! Peidar na frente da mulher é assassinar o romantismo, o desejo... Peidos ao invés de sussurros apaixonados... Será que ele peida na frente dela? Duvido. Gordo, velho e peidão? Uma mulher de trinta não suportaria.

Fora os peidos, e muitas vezes a displicência em me elogiar, ele até que era uma boa companhia. Ríamos muito, gostávamos de viajar, ir ao teatro, conhecer restaurantes, visitar amigos. Éramos felizes, afinal.

Talvez tenha sido o tédio após a saída das "crianças", talvez a flacidez de minhas carnes que não lhe despertassem mais desejos. Só sei que ele se foi e eu fiquei assim: pensando demais.

Pensar dói.

Acho que vou vender este apartamento e morar numa casa pequena onde caibam meus passos, meu canto no chuveiro, minhas músicas, meus poucos e fiéis amigos. Onde não haja eco demais. O eco incomoda quando estamos sós.

Nada de pena.




11 de mar. de 2009

Boa noite

Queria uma borracha, ou uma máquina do tempo. Desculpas não valem nada afinal. Nem ninguém.

Cada ser humano é sujo em pensamentos e atitudes. A sua moral não é a minha. Nem a sua condenação. Tudo é relativo afinal. Mas não há desculpas que invalidem meu mal.

Você ri e anda e ama as pessoas que fazem o mal que fiz. Acha graça. Mas pra mim não há perdão. Não. Escrúpulo no ralo. Só seus erros não são tão maus. O ser humano pode mudar. Eu não.