29 de nov. de 2009

Esperas

Esperar aprender a falar,
engatinhar e depois caminhar.

Esperar o amor surgir,
e o final de semana chegar pra poder descer.

Esperar que a unha cresça,
O peito apareça e o sangue logo desça.

Esperar os amores chegarem e terminarem,
e aprender a se amar para amar.

Esperar para e aprender a fazer sobrancelha,
e então fazer-se moça e feminina.

Esperar ser sempre feliz.

Esperar as férias chegarem,
Os erros dissiparem-se, o tempo curar.

Esperar barriga crescer, a filha amamentar
Um novo ciclo amar observar.

Esperar se formar, dinheiro entrar,
e então se mudar.

Esperar o carnaval chegar e passar,
e então se apaixonar.

Esperar que os sonhos não se percam,
e que as dores sejam raras.

Esperar a aprovação merecer,
A música finalizar e que todos gostem.

Esperar que o dia acabe,
a página fique pronta e linda.

Esperar o tempo passar para a dor do fim cessar...

Esperar o final de semana passar,
e a filha voltar pra dormir.

Não esperar a morte chegar.

23 de nov. de 2009

Paciente ou cliente?

A paciente foi ao consultório do cirurgião plástico que havia colocado suas próteses de silicone há exatos cinco anos. Estava aflita e precisava falar com ele.

Médico conceituado, famoso em todo o país, tinha consultório cheio até às 22h diariamente... Vivia sempre lotado de menininhas descontentes com seus narizinhos redondinhos, peitos pequenininhos, senhoras infelizes com qualquer sinal de velhice e que sempre íam fazer "retoques" até ficarem com aquelas caras congeladas e cada vez mais inchadas! Fora as preguiçosas que sempre tinham algo a lipoaspirar...

Ela afundou-se numa poltrona, ligou seu mp3 no máximo pra não ter que escutar aquele papo fútil sobre nariz que estava fluindo no sofá ao lado. Esperou pacientemente por duas horas até ser chamada à sala dele.

Fora avisada mais cedo, por telefone, pela atendente (que da última vez não estava com aquele nariz nem com aquela carinha de boneca congelada) que só precisaria chegar às 19h. Entrou no consultório às 21h.

O cirurgião estava com o mesmo corte de cabelo, o qual deixava a paciente agoniada. Ela tinha uma vontade enorme de pegar aquele cabelo liso e cheio que caía na metade do rosto e colocá-lo para trás... Pensou em dar uma tiara de presente a ele. Mas essa era a ideia dele, com certeza: cabelos cobrindo um dos olhos. Na cabeça dele aquilo deveria ser um charme...

Lembrou-se imediatamente da primeira vez que o vira naquele consultório. Quando ela entrou, ele, sem olhar para ela, sentado na cadeira e com uma postura erecta impecável, cumprimentou-a enquanto segurava com o braço estendido um espelho de mão (daqueles grandes, tipo os que as "sereias" usam nos filmes, sabe?!), e se admirava ajeitando e sacudindo e ajeitando de novo aquela franja vasta, escorrida e agoniante. Depois de uns cinco segundos guardou-o na gaveta e então abriu-lhe um enorme sorriso metálico. No mínimo, excêntrico.

Desta vez ele não estava a se olhar no espelho, mas a riscar um cd com uma daquelas canetas para escrever em superfície de cd, e utilizava a capa de papel do cd como apoio para que formasse figuras geométricas perfeitas. Sem olhar pra ela, perguntou se estava tudo bem e ela começou a falar-lhe do que se tratava a sua visita. Ele, entretido no seu ritual, ouvia atentamente as suas palavras.

A paciente estava ali porque suspeitava que sua prótese havia se rompido. Já fora como extra naquela tarde a um mastologista, fizera ultrassonografia das mamas e também marcara ressonância magnética pra dali a uma semana.

Ele acabou seus desenhos geométricos que cobriam alguns nomes antes escritos no cd , guardou-o e pegou o envelope com o exame de ultrassom, enquanto falava que era impossível a prótese ter-se rompido. Ela disse que o mastologista dissera isto também, mas a médica que fez o ultrassom levantou a possibilidade de uma pequena ruptura, além da retração da prótese.

Concordando apenas com a retração, ele deu a solução: uma nova cirurgia. Mas antes precisava dar uma verificada na mama.

Nova cirurgia? Não poderia... Estudando pra concurso, desempregada... Ele sorriu e ela pôde ver que ele não usava mais aparelho nos dentes. Aliás... só neste momento ela entendeu porque ele estava sorrindo tanto desde que começou a falar.

Mama verificada, apalpada, revirada (aquilo a deixava incomodada), sentaram-se. Percebendo o desespero da paciente, receitou um corticóide intramuscular. "Pode melhorar. Mas ela deve ficar assim mesmo: retraída. O jeito é uma nova cirurgia."

O médico despontou a falar da cirurgia como uma vendedora de bolsas caríssimas que acaba seduzindo as clientes pelas formas de pagamento e qualidade do material, além da oportunidade de estarem de acordo com as tendências da moda... Falou de todas as vantagens do novo material (resistência, menor risco de retração e encapsulamento, além do novo formato cônico), e , claro, das formas de pagamento. Primeiro, o valor do anestesista (apenas R$ 900,00!), do Hospital (R$ 2400,00 dividido em 6 vezes!) e da prótese (R$ 2300,00 podendo parcelar em até 12, 10 ou 6 vezes no cartão!). O preço da equipe... - aí ele começou a escrever toda a enorme equipe, que ela não conseguia identificar por causa da grafia peculiar da classe - , como ela já era "cliente", sairia por míseros R$ 4000,00. Totalizou R$9600,00. Mais barato do que há cinco anos... Hum... Poderia ser, viu? Pensou ela. Parcelando até que dá...

Saiu dali direto à procura de uma farmácia para tomar a injeção e guardou o papelzinho com o orçamento dentro da agenda do próximo ano...

Bom vendedor.


Arnaldo Jabor

Vez ou outra surge um texto do Arnaldo Jabor na minha caixa de mensagem. Digam o que quiserem os homens, mas eu gosto dos textos dele sobre relacionamento (estes são os que SEMPRE aparecem nas caixas de entrada das mulheres...rs) e ponto final! Posso até não concordar com tuuuudo, porque homem sempre pensa um pouco diferente afinal... Mas no geral, agradam-me os seus textos.

Hoje recebi um (já dantes lido) de uma amiga e, contrariando minha ideia inicial do blog (este destina-se a pensamentos livres meus...), irei postá-lo aqui hoje, pois tem muito a ver com meus dias atuais.

"Relacionamentos

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim.
Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah,terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo.....
- Cinco anos...que pena...acabou....
- é...não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes voce não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.
Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.
Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga...se não bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não brigue, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?
O legal é alguém que está com você, só por você. E vice versa.
Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói.
Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração.....
Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.
E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse....
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... Ou se apaixonar... Ou se culpar...
Enfim...quem disse que ser adulto é fácil ?????"

Nada fácil...

22 de nov. de 2009

Depois do almoço

Brilha o mar da Bahia em mais um dia de sol.
Rua cheia de carros, sons, gritos, risadas, passos de turistas.
A maresia entra em meus pulmões ávidos por respirar a rua.
E sinto saudade de um banho de mar.
Posso sentir a água me banhar...

Deixo as janelas do carro abertas para que o vento entre.
O prazer, mesmo que efêmero e raro, satisfaz.
Sigo atrás de uma viatura que pára a todo instante sem dar sinal,
Mas nada me aborreceria neste momento de contemplação.
Estou em paz.

Ritual

Esta semana ela estava passando por uma crise existencial. Nunca a tivera antes. Mas sei exatamente o seu motivo. Na verdade, um contexto recheado de motivos...

Balzaquiana prestes a completar 31 anos. Divorciada, uma filha adolescente (estes dois não eram motivos, a não ser o fato de não estar dando a atenção que se faz necessária à filha). Um namoro noutrora perfeito beirando ao fim. Parara de trabalhar para se dedicar aos estudos concurseiros e o concurso no qual quer muito passar, aproximando-se. Não está malhando como gosta, nem ensaiando suas músicas, tampouco saindo para se divertir. A vida parece-lhe uma sequência de dias iguais onde a segunda é igual ao sábado que é igual à quinta. No meio deste turbilhão, algo especial aconteceu, que tirou seus pés do chão. Algo relacionado com a música, pela qual nutre uma grande paixão. E desde então, seus pensamentos não a deixam estudar. Voam longe como os de uma adolescente sonhadora, que costumava ser.

Resolveu encaminhar para uns poucos queridos um email que recebera há menos de um mês de uma prima amiga e, como querida, naturalmente era uma das destinatárias.

Tratava-se de uma brincadeira. A pessoa que recebesse o email teria que defini-la em apenas uma palavra, e, se quisesse continuar o jogo para saber o que pensam dela, enviaria para quem quisesse.

Uma palavra. Difícil conceituar uma pessoa numa palavra. Ela mesma sentiu enorme dificuldade em fazê-lo em relação àquela prima que iniciou este processo. Mas acha que, por fim, o fez bem.

Esta mulher estava precisando destas definições a fim de sentir-se especial e ter força para tomar certas decisões que se faziam necessárias ao seu coração, por hora angustiado.

Ansiosa pelas respostas, partiu a lê-las. "Vamos ver o que sou afinal...".

A primeira era especial. Primeiro, por ser a primeira: aquela pessoa por quem estava nutrindo recente admiração havia se importado em responder-lhe logo. E fez questão de escrever em Caps Lock, como num grito (inesperado para ela): REVELADORA!

Reveladora... Ela gostou. Realmente, ela se revela a cada gesto, palavra dita, escrita. Por seus olhos, vê-se o que pensa e sente. São a mais pura tradução da janela da alma. O que pensa, normalmente não teme em dizer. Fala demais até. Já o que sente, por timidez, na maioria das vezes, só descobre quem olha seu rosto. Ele se entrega.

O segundo email, foi muito meigo. Um amigo por demais querido escreveu encanto. Chegou a se preocupar... encanto. Será que ele sente algo por mim? Mas logo afastou esta ideia. Não. Amigo e casado. Na dúvida, agradeceu e mandou beijos pra esposa dele.

Meiga veio de uma nova amiga, colega de concurso que se diz sua fã. Diz adorar a voz dela cantando. Ela fica feliz quando lhe dizem isto, pois por muito tempo não gostou de sua voz, apesar de sempre querer cantar... Meiga ela realmente é. Gosta de fazer carinho nas pessoas, tanto com gestos quanto com palavras. Isto, com toda certeza, não acontece quando estoura, quando está na tpm, mas no geral ela é meiga sim. Aceitou satisfeita esta definição.

A prima iniciadora da brincadeira chamou-a talentosa. É sua admiradora desde que ela começou a cantar e mostrou isto pra família. Mas família é assim meio suspeita, né? Porém gostou e aceitou como estímulo, afinal.

O adjetivo que ela mais precisava neste momento era forte. E ele veio de outra nova amiga, que admira seu jeito racional. Racional?! Seria racional terminar um namoro faltando um mês para a prova? Mas ela realmente é forte. Pode chorar (porque é muito sensível e chora por tudo), mas aguenta o que vier. Sim. Ela sabia que era realmente forte.

Quem a definiu como doce foi a colega que sentava ao seu lado na sala do curso, e que virou amiga, confidente e, quem sabe, futura sócia. Doce é sinônimo de meiga. Ela gostou, aceitou e sorriu satisfeita.

Uma nova amiga concurseira, falante, de olhos verdes vibrantes, por quem teve empatia instantânea, qualificou-a como autêntica. Talvez isto a defina bem. Afinal, nunca gostou mesmo de seguir padrões, gosta de falar o que pensa e não concorda com as pessoas por conveniência ou educação. Elogios seus são os mais verdadeiros porque só os faz quando acredita neles.

Nem todas as pessoas responderam. Ela, a princípio, ficou sentida, mas depois lembrou-se do quanto está distante de todos e deixou pra lá. Quer ser amado? Seja amável... É mais ou menos assim que funciona. Coincidência, ou não, só responderam os que ela está em contato nos últimos tempos.

E o que importava já estava ali. Ela tinha enfim definições que poderiam fazê-la dar o próximo passo. Era meiga, doce, encantadora, autêntica, reveladora. Era especial para ficar sozinha, então. Só precisaria ser forte o suficiente para conseguir ir até o final da dor da separação. Esta sempre dói nela.

Sentiu-se pronta.

21 de nov. de 2009

Todo carnaval tem seu fim...

Amar dói. Mas eu sempre insisto em querer amar de novo...

A cada fim, uma nova dor, com outras lembranças em flashes. Tudo parece ficar mais poético no final.

E ainda há o medo de não ser amada de novo. Medo de vê-lo mais feliz com outra do que comigo. Medo de não existir outra pessoa tão perfeita para mim. Medo dele fazer com ela o que não queria comigo. São muitos medos, enfim.

Lágrimas pulam em meio a soluços. Falta apetite. Falta sono. Sobra tristeza. E, ao fundo, músicas que marcarão este momento.

É duro levantar da cama. E há uma dor que beira à física se não ligar pra lhe dar boa noite, ouvir sua voz... Ou quando se tem um abraço de despedida negado (disse ele "Pra quê? Pra ter lirismo?")

O fim é uma merda.

Quisera não amar de novo para não sofrer mais uma vez...

Mas sei: de novo irei querer o
s risos, coração aos pulos, noites em claro, planos. Um dia hei de concretizá-los até o fim. (Não do amor...)

Quisera não tivesse fim.