22 de nov. de 2009

Ritual

Esta semana ela estava passando por uma crise existencial. Nunca a tivera antes. Mas sei exatamente o seu motivo. Na verdade, um contexto recheado de motivos...

Balzaquiana prestes a completar 31 anos. Divorciada, uma filha adolescente (estes dois não eram motivos, a não ser o fato de não estar dando a atenção que se faz necessária à filha). Um namoro noutrora perfeito beirando ao fim. Parara de trabalhar para se dedicar aos estudos concurseiros e o concurso no qual quer muito passar, aproximando-se. Não está malhando como gosta, nem ensaiando suas músicas, tampouco saindo para se divertir. A vida parece-lhe uma sequência de dias iguais onde a segunda é igual ao sábado que é igual à quinta. No meio deste turbilhão, algo especial aconteceu, que tirou seus pés do chão. Algo relacionado com a música, pela qual nutre uma grande paixão. E desde então, seus pensamentos não a deixam estudar. Voam longe como os de uma adolescente sonhadora, que costumava ser.

Resolveu encaminhar para uns poucos queridos um email que recebera há menos de um mês de uma prima amiga e, como querida, naturalmente era uma das destinatárias.

Tratava-se de uma brincadeira. A pessoa que recebesse o email teria que defini-la em apenas uma palavra, e, se quisesse continuar o jogo para saber o que pensam dela, enviaria para quem quisesse.

Uma palavra. Difícil conceituar uma pessoa numa palavra. Ela mesma sentiu enorme dificuldade em fazê-lo em relação àquela prima que iniciou este processo. Mas acha que, por fim, o fez bem.

Esta mulher estava precisando destas definições a fim de sentir-se especial e ter força para tomar certas decisões que se faziam necessárias ao seu coração, por hora angustiado.

Ansiosa pelas respostas, partiu a lê-las. "Vamos ver o que sou afinal...".

A primeira era especial. Primeiro, por ser a primeira: aquela pessoa por quem estava nutrindo recente admiração havia se importado em responder-lhe logo. E fez questão de escrever em Caps Lock, como num grito (inesperado para ela): REVELADORA!

Reveladora... Ela gostou. Realmente, ela se revela a cada gesto, palavra dita, escrita. Por seus olhos, vê-se o que pensa e sente. São a mais pura tradução da janela da alma. O que pensa, normalmente não teme em dizer. Fala demais até. Já o que sente, por timidez, na maioria das vezes, só descobre quem olha seu rosto. Ele se entrega.

O segundo email, foi muito meigo. Um amigo por demais querido escreveu encanto. Chegou a se preocupar... encanto. Será que ele sente algo por mim? Mas logo afastou esta ideia. Não. Amigo e casado. Na dúvida, agradeceu e mandou beijos pra esposa dele.

Meiga veio de uma nova amiga, colega de concurso que se diz sua fã. Diz adorar a voz dela cantando. Ela fica feliz quando lhe dizem isto, pois por muito tempo não gostou de sua voz, apesar de sempre querer cantar... Meiga ela realmente é. Gosta de fazer carinho nas pessoas, tanto com gestos quanto com palavras. Isto, com toda certeza, não acontece quando estoura, quando está na tpm, mas no geral ela é meiga sim. Aceitou satisfeita esta definição.

A prima iniciadora da brincadeira chamou-a talentosa. É sua admiradora desde que ela começou a cantar e mostrou isto pra família. Mas família é assim meio suspeita, né? Porém gostou e aceitou como estímulo, afinal.

O adjetivo que ela mais precisava neste momento era forte. E ele veio de outra nova amiga, que admira seu jeito racional. Racional?! Seria racional terminar um namoro faltando um mês para a prova? Mas ela realmente é forte. Pode chorar (porque é muito sensível e chora por tudo), mas aguenta o que vier. Sim. Ela sabia que era realmente forte.

Quem a definiu como doce foi a colega que sentava ao seu lado na sala do curso, e que virou amiga, confidente e, quem sabe, futura sócia. Doce é sinônimo de meiga. Ela gostou, aceitou e sorriu satisfeita.

Uma nova amiga concurseira, falante, de olhos verdes vibrantes, por quem teve empatia instantânea, qualificou-a como autêntica. Talvez isto a defina bem. Afinal, nunca gostou mesmo de seguir padrões, gosta de falar o que pensa e não concorda com as pessoas por conveniência ou educação. Elogios seus são os mais verdadeiros porque só os faz quando acredita neles.

Nem todas as pessoas responderam. Ela, a princípio, ficou sentida, mas depois lembrou-se do quanto está distante de todos e deixou pra lá. Quer ser amado? Seja amável... É mais ou menos assim que funciona. Coincidência, ou não, só responderam os que ela está em contato nos últimos tempos.

E o que importava já estava ali. Ela tinha enfim definições que poderiam fazê-la dar o próximo passo. Era meiga, doce, encantadora, autêntica, reveladora. Era especial para ficar sozinha, então. Só precisaria ser forte o suficiente para conseguir ir até o final da dor da separação. Esta sempre dói nela.

Sentiu-se pronta.

2 comentários:

  1. Uma amiga ontem falou com a mulher em crise: fiquei com ciúme porque não tinha o que mandei... Aquela explicou-lhe que ela enviou o email depois da postagem do texto...
    Esta amada amiga, colega apenas do primeiro semestre de faculdade, depois colega numa agência de publicidade, e enfim amiga quando ela (a mulher em crise) trabalhava no estúdio, pensou em defini-la autêntica, aí resolveu por espontânea...Acabou concluindo que são as duas qualidades a mesma coisa! rsrs!

    Outra pessoa querida, definiu-a DETERMINADA. E é mesmo. Acredita tanto nas coisas, tem tanta fé no que quer, que elas quase sempre acontecem. Não importa o tempo que levem...

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  2. A irmã enviou apenas hoje, pois estava sem acessar sua caixa de email... PERSEVERANTE. Em Caps também. Ela está sendo.

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