30 de jan. de 2010

Joguei na privada

Num relacionamento a gente aprende a ser melhor. Há uma tendência a querer se moldar para agradar ao outro, tentar viver em harmonia - este papo todo da boa convivência... Tentamos nos desapegar de hábitos que antes nem pensávamos fossem reprováveis - tudo pela paz, amor eterno...

Tem gente que acha o fim não arrumar a cama assim que se levanta (hábito apreendido numa criação rígida ou mesmo naturalmente inerente àquela personalidade neurótica). E lá se foi Maria a esticar o lençol, dobrar o cobertor e forrar a cama antes mesmo de fazer seu xixi matinal... Agrada-se João, resigna-se Maria e são felizes então.

Eu tinha um hábito, fruto de exemplo paterno, que não julgava errado. Uma coisa que fazia sem pensar. Simplesmente fazia. Jogava o papel higiênico na privada ao invés de jogá-lo no lixo. Achava que o lixo deveria ser para objetos mais sólidos, como absorventes, frascos vazios de shampoo, etc. Nunca parei para pensar que nosso sistema de esgoto não fosse capaz de triturar aquele papel superfino, "macio, delicado ao toque". Eis que, numa de nossas discussões, meu namorado falou que eu nem jogava o papel no lixo!

Impressionante como a gente tem a mania de falar de coisas que não têm nada a ver com a temática da discussão. Falamos para aumentar o repertório de defeitos reprováveis do outro que nos chateou por um motivo diverso. Falamos para fazer a pessoa se sentir pior. "Mas como assim?! O que tem de mais jogar o papel no vaso?"...

Acabamos. Não por causa do papel no vaso, claro. Até mesmo porque eu moldei-me àquela verdade dele que passou a ser a minha. Entendi que é mais ecologicamente correto jogar o papel na lixeira. Acabamos porque demos no que tínhamos que dar, amamos o que foi possível amar. Fomos felizes, tivemos momentos inesquecíveis, especiais. Fomos especiais um para o outro - mesmo com o meu "defeito abominável" de jogar o papel no vaso e de só depois de mais de um ano ser informada que aquilo o irritava tanto. Acabamos.

Quando decidi enfim esquecê-lo, fiz um ritual simbólico. Joguei o papel no vaso. Senti-me satisfeita com aquele ato de libertação da obrigação de agradá-lo. Sim. Sei que a verdade dele passou a ser a minha e adotei este hábito da lixeira numa boa. Não fazia simplesmente para deixá-lo feliz, porém fiz questão que ele visse que havia mudado minha atitude. A verdade é que jogar aquele papel foi uma singela transgressão...

A água da descarga levou o papel molhado e a minha vontade em agradá-lo e de querê-lo de novo. Fez-se o fim.

Um comentário:

  1. e que se comece o novo, o fim sempre é uma oportunidade de se começar algo novo, diferente, jurando que não repetirá velhos hábitos, e lá vamos nós, de volta à vida que a gente nem sabe como ser, sem as antigas referências, antigos hábitos... e começa tudo outra vez, "tudo novo de novo", a vida é um ciclo. Um brinde ao novo!

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